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PF diz que não há indício de crime por parte das vinícolas

Após cumprimento de mandados na Serra, delegado disse que investigação está focada na fornecedora de mão de obra

Em entrevista coletiva após o cumprimento de sete mandados de busca e apreensão em Bento Gonçalves e Garibaldi nesta sexta-feira (17), o delegado Adriano Medeiros do Amaral, da Polícia Federal (PF), afirmou que a investigação sobre o resgate de 207 safristas da colheita da uva em situação análoga à escravidão em 22 de fevereiro não encontrou até agora evidências de que as três vinícolas envolvidas na denúncia, Aurora, Salton e Garibaldi, tivessem participação direta no crime de exploração dos trabalhadores.

— Até o presente momento, e a gente pesquisou bastante sobre isso, nas provas que a gente tinha aqui, não foi encontrado nenhum indício de participação das vinícolas no crime de redução ao trabalho análogo ao escravo — disse o delegado, que é o responsável pela investigação.

Conforme Amaral, o que foi identificado é “um contrato de fornecimento de mão de obra por uma empresa terceirizada”. Em razão disso, a investigação está concentrada nessa empresa, que é a Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão em Saúde Ltda. Ainda assim, o delegado afirmou que representantes das vinícolas serão ouvidos pela PF.

A corporação atua na investigação criminal. O episódio na Serra também envolve outras esferas de apuração. Na semana passada, as vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi, que utilizaram a mão de obra fornecida pela empresa investigada, assinaram um acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), assumindo uma série de compromissos para evitar que situações de trabalho análogo à escravidão se repitam. Além disso, as vinícolas vão pagar R$ 7 milhões a título de indenização.

O que diz a defesa de Pedro Santana, da Fênix

O advogado Augusto Giacomini Werner divulgou nota a respeito da ação da PF: “O senhor Pedro é o maior interessado que a verdade dos fatos seja desvelada, motivo pelo qual, desde o início, colabora com as investigações realizadas pelas autoridades. No que se refere às armas, sua propriedade trata-se de um direito do Sr. Pedro, que as mantinha em condições regulares e registradas perante o órgão competente, de forma que as mesmas, ao contrário do que listado pelos meios de comunicação, somente foram apreendidas pelo fato de que, com a abertura do inquérito, abre-se processo administrativo junto à instituição para que apure sobre a manutenção da idoneidade do titular do direito. A desinformação da sociedade prejudica tanto as investigações, como a própria vida do Sr. Pedro, empresário de carreira sólida e reputação inquestionável que, antes de exercer o seu direito de ampla defesa no decorrer do devido processo legal, já é tratado por muitos como culpado”.

Manifestação das vinícolas

Após a operação desta manhã de sexta-feira as vinícolas que contrataram a empresa investigada se manifestaram.

A Cooperativa Vinícola Garibaldi declarou que “confia na correta apuração dos fatos, o que cabe às autoridades competentes”.

A vinícola Aurora declarou, em nota, que “apoia todas as investigações em curso e continua à disposição das autoridades. Paralelamente, atua em diversas frentes para o restabelecimento dos direitos dos colaboradores terceirizados, vinculados à empresa Fênix, bem como na implementação das melhores práticas para gestão de terceiros e fornecedores. À sociedade brasileira, a Aurora reafirma seu compromisso de aperfeiçoar cada vez mais os processos produtivos e mecanismos de fiscalização.”

Também por meio de nota, a Salton manteve posicionamento já publicado. Leia a nota na íntegra:
“A Vinícola Salton firmou, nesta quinta-feira (09/03), acordo com o Ministério Público do Trabalho para reparar danos causados a trabalhadores e à sociedade, em função de resgate ocorrido nas dependências da empresa Fênix Serviços Administrativos, flagrada mantendo trabalhadores em condições degradantes em um alojamento em Bento Gonçalves (RS). A Salton contratou 14 trabalhadores desta prestadora de serviços para carga e descarga de caminhões de uva na safra 2023.

Os termos do acordo, assinado pelas vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi, reforçam que as empresas concordaram voluntariamente com o pagamento, sob a forma de indenização, no valor de R$ 7 milhões, a ser rateado pelas empresas. Além de compor o fundo dos trabalhadores resgatados, o valor será revertido a entidades, projetos ou fundos que permitam a reparação dos danos sociais causados, a serem oportunamente indicados pelo Ministério Público do Trabalho.

A Salton ressalta que a assinatura voluntária deste termo tem o intuito de reforçar publicamente seu compromisso com a responsabilidade social, boa-fé e valorização dos direitos humanos, bem como a integridade do setor vitivinícola gaúcho.

A Salton e as demais vinícolas construíram conjuntamente com o Ministério Público do Trabalho procedimentos para fortalecer a fiscalização de prestadores de serviços para evitar que episódios lastimáveis voltem a ocorrer. Além disso, o acordo prevê, também, ampliar boas práticas em relação à cadeia produtiva da uva junto aos seus produtores rurais.

Por fim, o texto final do TAC declara que a celebração do acordo “não significa e não deve ser interpretada como assunção de culpa ou qualquer responsabilidade das COMPROMISSÁRIAS pelas irregularidades constatadas no curso da ação fiscal empreendida entre os dias 22 e 25 de fevereiro de 2023 em Bento Gonçalves, que culminou no resgate de trabalhadores que prestavam serviços para a empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde Ltda”.

A Salton reforça que cumprirá prontamente as determinações do acordo e reitera que atuará ainda em frentes adicionais já apresentadas em nota pública, tais como revisão de todos os processos de seleção e contratação de fornecedores, com implantação de critérios mais rigorosos e que coíbam qualquer tipo de violação aos dispositivos legais, incluindo direitos humanos e trabalhistas; contratação de auditoria independente externa para certificar as práticas de responsabilidade social; adesão ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, entre outras.

A empresa reitera que repudia, veementemente, qualquer ato de violação dos direitos humanos e expressa, também, seu repúdio a todas e quaisquer declarações que não promovem a pacificação social. A Salton procura reafirmar com este acordo a sua não omissão diante deste doloroso fato, a sua demonstração genuína de amparo aos trabalhadores e à sociedade e o seu dever moral e legal em assumir uma postura mais diligente em relação aos seus prestadores de serviços.
Família Salton”

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