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Após enchentes, Muçum, no Vale do Taquari, teme perder a sua maior indústria

A pequena cidade de 5 mil habitantes, assim como outros municípios do Vale do Taquari, vive uma onda de migração. Na foto, o interior de uma residência

Cerca de 50 dias após a enchente que inundou 80% da área urbana de Muçum, no Vale do Taquari, a cidade teme perder a sua maior indústria, do setor de couro. Os moradores continuam abalados pela tragédia, com medo de novas enchentes, e alguns já decidiram deixar a cidade. Segundo o prefeito Mateus Trojan (MDB), a situação é angustiante.

“A nossa maior empresa, que chega a ter 500 funcionários, está com operação apenas provisória com 80 a 100 funcionários, uma redução bastante brusca. É uma dúvida da cidade se eles vão continuar operando ou não por conta do tamanho do prejuízo e da dificuldade de reconstrução no mesmo lugar. É uma angústia que a gente vivencia hoje”, destacou.

A pequena cidade de 5 mil habitantes, assim como outros municípios do Vale do Taquari afetados pelas enchentes de maio, vive uma onda de migração. Os moradores tentavam se recuperar da grande cheia de setembro de 2023, quando foram atingidos pela nova catástrofe climática do mês passado. Segundo Trojan, as inundações anteriores a setembro de 2023 não causavam grandes prejuízos.

“Era uma cidade considerada segura e sem maiores problemas. Agora, passa a ser de risco praticamente em toda a sua área urbana”, disse o prefeito, acrescentando que a evasão preocupa. “Ou a gente dá uma resposta rápida ou vai ter uma diminuição muito grande da população e dos empreendimentos da cidade”, completou.

A prefeitura tinha reconstruído o muro da sua sede dez dias antes da enchente de maio, que voltou a derrubar a estrutura. O Executivo municipal estima que 30% da área urbana precisará ser realocada. Projeta ainda uma redução de 10% da receita de impostos neste ano.

Reconstrução

O prefeito de Muçum relatou dificuldades para reconstruir a cidade, principalmente por causa da burocracia estatal. “São muitos órgãos do governo que acabam nos fazendo perder, em cada trâmite, alguns dias. Com isso, se perdem semanas por questões que são unicamente burocráticas, não é nem de disponibilidade financeira”, disse.

Trojan citou ainda a demora na liberação dos créditos para o setor empresarial e as dificuldades para reconstrução das moradias. “Aparentemente, [o programa para novas moradias] parece positivo, mas vamos ter que avaliar na prática se as pessoas vão conseguir ter acesso ou se as restrições vão inviabilizar para muitas famílias”, completou.

Pesadelo

O consultor de vendas Tiago Dalmolin, de 43 anos, vive em uma casa ao lado do rio Taquari e ainda está limpando a residência, em torno de 50 dias após a enchente. Ele decidiu abandonar a cidade.

“Nasci e cresci aqui e optei por morar aqui por ser uma cidade tranquila, boa para criar filhos. Só que se transformou em um pesadelo. Aí não tem mais como ficar. Eu estou fazendo um tratamento psicológico no meu filho mais velho [de 9 anos]”, contou.

Na enchente de 2023, ele ficou com a mulher e os dois filhos por oito horas no telhado esperando resgate. Na catástrofe de maio deste ano, conseguiu deixar a casa antes de a água tomar toda a residência, chegando a 1,5 metro de altura. As informações foram divulgadas pela Agência Brasil.

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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