A Polícia Civil de Campo Bom, na Região Metropolitana de Porto Alegre, investiga um pedido de delivery para uma pastelaria com uma observação de cunho racista. Na nota que acompanhava a solicitação, estava escrito: “última vez veio um motoboy negro, peço a gentileza que mande um branco, não gosto de pessoas assim tocando a minha comida”.
O pedido foi feito na terça-feira (14). O restaurante fez o cancelamento e acionou a Polícia Civil. Segundo o delegado Rodrigo Câmara, responsável pela investigação do caso, o nome que assina o pedido não corresponde a nenhum morador do prédio indicado para a entrega.
O número que seria do apartamento não existe. A Polícia tenta descobrir quem é o real autor da frase. A equipe também investiga se houve pagamento e se é possível rastrear a origem.
“Se a intenção foi ofender alguém especificamente, vai responder pelo crime de injúria racial. Por outro lado, se a intenção foi discriminar um grupo de pessoas em razão da cor da pele, então deve responder por um dos tipos penais de racismo”, explica o delegado Câmara.
Nenhuma hipótese é descartada, segundo o delegado, inclusive a de que o pedido possa ter se tratado de um trote. Mesmo se esse for o caso, o responsável pode sofrer punições.
“Qualquer forma de discriminação ou preconceito baseado na cor da pele com objetivo de constranger, humilhar ou vergonhar esse grupo de pessoas é considerado crime”, diz o delegado.
‘Não quero pessoas assim comprando aqui’
Uma das proprietárias da pastelaria onde foi feito o pedido, Daniela Rodrigues reagiu assim que recebeu a mensagem. “Respondi ela e disse que iria cancelar o pedido imediatamente”
Na área de chat do aplicativo, Daniela pediu que a pessoa não fizesse mais pedidos ao estabelecimento. “Não quero pessoas assim comprando aqui”, disse ela. A pessoa que fazia o pedido ainda proferiu palavras ofensivas depois disso. Daniela também informou a ocorrência à plataforma.
Daniela aponta que o motoboy citado na mensagem seria o seu marido, Gabriel Fernandes, que também é sócio da pastelaria administrada pelo casal há dois anos.
Nota do Ifood
“O iFood repudia veementemente qualquer atitude racista, seja ela física ou verbal. Assim que tomamos conhecimento do caso ocorrido na cidade Campo Bom, identificamos que o cliente em questão criou uma conta no nosso app na data de 14/11/2023, realizando esse único pedido. Além disso, buscamos contato com os donos do restaurante para prestar o apoio necessário. Já estamos tomando as providências para o bloqueio do cliente e seguimos à disposição das autoridades para quaisquer informações necessárias. É importante ressaltar que esse tipo de comportamento fere totalmente os termos de uso da plataforma e que não toleramos nenhum tipo de descriminação.
Toda vez que um entregador ou restaurante parceiro identifica um pedido com dados errados ou comportamentos discriminatórios, a orientação é informar diretamente a plataforma sobre o ocorrido, para que possamos tomar as providências imediatamente.
Nesses casos, de violências física e verbais, os entregadores parceiros do iFood contam com o suporte da Central de Apoio Jurídico e Psicológico, serviço em parceria com a organização global de advogadas negras, Black Sisters In Law, que disponibiliza uma advogada para acompanhar o caso de maneira personalizada e humanizada. Para ter acesso, os profissionais precisam acessar a área de Alerta de Casos Graves, dentro do app iFood para Entregadores, e realizar a denúncia com todas as informações do caso”.