Uma cena inusitada chamou atenção dos moradores de Palmeira das Missões e região em um vídeo que circulou pelos aplicativos de mensagens nos últimos dias. Nas imagens, registradas por uma câmera de segurança de uma propriedade rural localizada na Linha Guaritinha (km 8 da ERS 154) é possível visualizar um felino de grande porte e mais três de menor porte o acompanhando.
Como nem tudo que circula por grupos de mensagens é verídico, a equipe de reportagem da Tribuna da Produção entrou em ação e descobriu a localidade onde os animais foram avistados. O filho do proprietário da fazenda, Evandro Kerber Lautert, confirmou, então, o fato.
De acordo com Kerber, ele foi visualizar as imagens para verificar se havia registro de geada na madrugada de domingo, 27, quando se deparou com a onça e os filhotes.
“Isso ocorreu no domingo de manhã. Fui ver se havia dado uma geadinha e, quando olhei para a timeline da câmera, percebi um movimento, porque seguidamente passam capivaras por ali. Mas ao prestar atenção vi a onça, daí fiquei assistindo ela e, para minha surpresa, não era uma, eram quatro” – conta.
Segundo a zoóloga e professora da UFSM-PM, Vanessa Barbisan Fortes, trata-se de uma Onça-parda (Puma concolor), conhecida também como Puma, Leão Baio ou Sussuarana, dependendo da região em que vive. A profissional explica que eles ocupam territórios bem amplos, já que são animais carnívoros de grande porte – o segundo maior felino das Américas – e precisam de uma grande quantidade de alimento para sobreviver.
“Elas se alimentam de mamíferos de porte não muito grande como, por exemplo, tatus e cutias. Mas, com a destruição das florestas, esse tipo de animal está se tornando bastante raro, então cada vez mais esses animais precisam andar grandes distâncias para conseguir encontrar alimento suficiente. E isso tem feito com que, às vezes, eles sejam vistos em áreas abertas, às vezes próximo das propriedades”– detalha.
Fortes explica ainda que a Onça-parda é um animal extremamente arisco, ao contrário da onça-pintada, que é mais agressiva. Elas não costumam ser agressivas, exceto quando estão com filhotes novinhos em situações que apresentem riscos para eles.
“A fêmea geralmente tem de dois a quatro filhotes que podem permanecer com a mãe até a idade de dois anos. Isso explica os filhotes de um porte grande como vemos nas imagens estarem na companhia da mãe. Os que aparecem ali devem ter um pouco mais de um ano” – ressalta.
Outro aspecto que envolve a territorialidade do animal é a extensão em que podem estar presentes, que se estende entre 30 e mais de 100 quilômetros.
“No Rio Grande do Sul, as principais populações dessa espécie ficam mais na região Nordeste, na região dos Campos de Cima da Serra e áreas de floresta com araucária. Mas aqui, mais próximo de Palmeira, a gente tem também algumas áreas extensas, como a Reserva Indígena do Guarita, a Reserva Indígena de Nonoai ou mesmo o Parque Florestal Estadual do Turvo, que é uma unidade de conservação que é bem extensa e abriga indivíduos dessa espécie” – pontua Fortes.
A devastação das florestas e a prática da caça são alguns dos fatores que têm contribuído para que o animal seja avistado com uma frequência significativa, se comparado a outros tempos. A espécie é considerada em perigo na lista da fauna ameaçada de extinção do Brasil e também na lista do Rio Grande do Sul.
Fonte: Jornal Tribuna da Produção