Educação

DIA DO PROFESSOR: A PAIXÃO PELOS LIVROS QUE TRANSFORMA VIDAS

Jacqueline Daudt tem mais de 35 anos de magistério e criou o Projeto Pinóquio para fazer os estudantes também se apaixonarem pela literatura

É difícil encontrar alguém em Carazinho que não conhece, ou pelo menos ouviu falar, do trabalho de Jacqueline Daudt a frente do Programa Pinóquio e do Centro Cultural Sandra Verônica da Maia Citolin. Mas a caminhada dela no ensino começou muito antes de ela abraçar estes projetos. “Eu nunca quis ser outra coisa na vida que não professora. Sou da geração que colocava os travesseiros em cima da cama e dava aula. Que escrevia no guarda-roupa antigo da vó com giz branco e dava aula para os travesseiros e para as bonecas. Minha vó tinha um desses e eu o estraguei de tanto escrever nele. Eu dava aula para os meus alunos imaginários e uma delas foi sobre um vulcão. Eu tinha uma grande paixão de explicar aquilo. Acho que eu devia ter uns 8 anos”, conta.

A professora relata que seguidamente as pessoas a questionam sobre a aposentadoria, quando ela parará de trabalhar, mas Jacqueline não se imagina longe das crianças. “Não vou deixar meus alunos agora. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Eu não sei fazer outra coisa. São mais de 35 anos de carreira. Eu fiz isso a vida toda!”, observa.

O primeiro dia que pisou em uma sala de aula ela jamais esqueceu. Tinha apenas 16 anos e chegou de kombi à Escola Veiga Cabral, em Pinheiro Marcado. “Recém tinha terminado o estágio e a diretora Gerni Farias me pegou pela mão, abriu a porta da sala e lá estavam 16 anos da educação infantil me esperando. Até hoje os vejo. Alguns trabalham no comércio, outros são professores. Foi muito marcante”, conta.

Ela fez magistério (hoje denominado curso normal), formou-se em pedagogia e cursou pós-graduação em pedagogia hospitalar, além de orientação e filosofia. “Entrei no Município em 1985, trabalhando em Pinheiro Marcado. Faz muito tempo. Também dava aula no Instituto Nossa Senhora da Glória, onde havia me formado em magistério. Muitos alunos passaram por mim e para minha surpresa estou reencontrando alguns no Centro Cultural. Alguns pais me procuraram porque foram meus alunos e os filhos querem ser meus alunos”, orgulha-se.

Quando o prefeito de Carazinho era Iron Albuquerque, Jacqueline foi convidada para atuar no ônibus batizado de “Odisséia da Leitura”, um projeto inovador para a época. “Aí fui para trabalhar na SMEC, nos projetos de leitura, e não atuei mais em sala de aula. Agora no Centro Cultural eu revivo a sala de aula, embora não trabalhe as disciplinas, mas a literatura faz um pouco deste trabalho”, assegura.

O Projeto Pinóquio, pelo qual a professora tem grande carinho foi criado dentro do ônibus da Odisséia de Leitura, em 2007, pela necessidade de incentivar a leitura e fazê-la se integrar à vida dos alunos, mas não da maneira convencional. “Não faço cobranças do tipo ‘leiam depois vou perguntar’, ou pedindo resenhas, fichas de leitura. Tem que ser algo prazeroso. O Pinóquio tem tudo a ver com o Centro Cultural agora. Transformar meninos e meninas em cidadãos de verdade, pessoas melhores. Usamos a leitura para melhorar a vida dos outros”, frisa. “É difícil mensurar o rastro que o programa deixa ao longo dos anos. Às vezes eu estou no supermercado, chego no caixa, converso com a atendente e ela me diz ‘eu conheço a sua voz!. São pessoas adultas que depois de tantos anos se recordam. Foi tão importante para tantas pessoas”, analisa.

Apaixonada pela cultura, Jacqueline confessa que criou o Pinóquio para deixa a sala de aula. Enfrentava dificuldades de ter suas ideias aceitas e foi na literatura que se encontrou. “Estou em final de carreira, mas vejo o quanto o Pinóquio beneficiou Carazinho. Todas as Administrações abraçaram. Fui passando de gestão em gestão e o projeto ficando porque as pessoas viam que era uma coisa bacana e importante”, considera.

Embora tenha um eixo pedagógico específico, o Centro Cultural e as oficinas oferecidas nele refletem claramente dos participantes em sala de aula. “É nítido perceber o quanto a leitura deles melhorou. Na aula de artes, alunos que nem gostavam de desenhar se apaixonaram depois que experimentaram. O trabalho do professor Pablo na Banda Astério Canuto de Souza é incrível. Existe um desejo muito grande de realizar as coisas. Da mesma forma nas aulas de canto e demais oficinas”, enumera.

Para Jacqueline, a pandemia também serviu para mostrar a importância do professor, visto que mexeu na rotina das escolas e todos tiveram de se adaptar ao ensino remoto, que deixou lacunas. “Muitas pessoas abriram os olhos para isso. Tiveram de orientar os filhos, ajudar, e sentiram dificuldade. Também sou mãe e foi muito difícil essa organização. Não tem como substituir o professor”, cita.

A professora menciona também que para o trabalho dar certo, o olhar dos gestores é fundamental. Neste sentido ela enaltece a confiança recebida pela Administração, através da SMEC e o Departamento de Cultura.

Sobre os desafios, Jacqueline admite que são muitos, mas jamais deve-se deixar de procurar a formação, estudar, buscar planejar atividades. “Para é estudar, me dedicar a pesquisa, a formação de mim mesma. Sempre penso nas necessidades que os alunos querem aprender na leitura, no desenho, na arte literária. Sempre fui muito estudiosa, sempre fui rodeada de livros porque era muito sozinha porque a diferença de idade para meus irmãos era grande. Na escola me afastava e ia para a biblioteca. Ali as coisas começaram a se despertar”, conta.

Por fim, Jacqueline lembra de uma frase um tanto clichê, mas bem verdadeira: “professor é exemplo”. “Tudo o que vê entrega para o aluno, ele te devolve: delicadeza, postura, gentileza. Somos exemplo sim, e figuras importantes. Os alunos podem lembrar da gente, às vezes de forma negativa. A postura do mestre é exemplo para o aluno. Eles nos seguem em várias situações”, afirma.

A professora sabe que em breve deixará de atuar, mas se sente muito orgulhosa de ter dado o pontapé inicial para o Centro Cultural. Recorda até a primeira aluna que frequentou o espaço. Rafaela Steffens Nogueira, da EMEF Pedro Pasqualotto abriu as matrículas que logo foram sendo preenchidas por mais alunos. “Nosso desejo é transformar o Centro Cultural numa referência e estamos trabalhando para isso”, coloca.

Jacqueline se encontrou na literatura e passa seu amor pelos livros aos alunos (Foto Divulgação/Arquivo Pessoal)

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